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terça-feira, 22 de julho de 2014

Escritores de Facebook

Ah, a internet. Capaz de transformar qualquer mero mortal em um gênio da arte, intelectual, espirituoso em sua essência. As redes sociais, então, tem o poder de dar asas à incontáveis almas poetas. O que não é necessariamente uma coisa boa. Simplesmente porque todos podem ser poetas, mas nem todos deveriam. E o mundo está sendo dominado por um batalhão de pseudo-escritores capazes de atrocidades inimagináveis. É uma epidemia, ainda desconhecida pela humanidade, ainda incurável. Ou quase.
Existem dois quesitos básicos para se ser um escritor, ou, pelo menos, um aspirante à escritor: o primeiro é ter um pensamento formado, um argumento, criticismo; o segundo, tão importante quanto o anterior, é um conhecimento básico da língua na qual se redige.
Tratemos do segundo caso neste primeiro momento, para fazermos as coisas diferentes dessa vez. Não é necessário conhecer cada regra, esmiuçar as gramáticas do idioma, ser qualquer coisa próxima a um "guru linguístico", mesmo porque, qualquer linguagem é complexa demais para que alguém chegue ao menos perto de uma compreensão total. A questão é que os "Escritores de Facebook" nascem em plena Era Google, a ferramenta mágica na qual, mesmo que tudo esteja grafado de maneira terrível, os resultados aparecem. Com a sugestão da grafia correta logo abaixo da busca, mas quem, afinal, precisa de correção? Novamente, não é que se deva saber cada palavra com precisão, mas escrever em um idioma e, simultaneamente, criar uma língua própria, não é a coisa mais saudável do mundo.
Mas passemos ao primeiro quesito (que, aqui, é o segundo. Quem precisa de sentido?). De que adianta se ter uma grafia impecável (difícil nos dias atuais, mas ainda existente, acreditem) se os argumentos não são inovadores ou, então, críticos? Pontos de vista de massa não precisam ser defendidos, muito menos esplainados. Todos estamos carecas de saber aquilo que qualquer vizinho é capaz de repetir de maneira fervorosa porque viu na televisão. O que precisamos, meus caros, é de criticismo, análises, eruditismo. O que precisamos são pessoas que não tenham medo de pensar. Senão, nenhuma palavra bem escrita salvará o que for colocado em palavras.
Se você chegou até aqui, é um sobrevivente, não está preso na Era Facebook. Pelo menos, não completamente. O fato é que redes sociais (e, em especial, o Facebook, berço da grande maioria de pseudo-escritores atuais), quando bem usadas, surtem um efeito positivo. E por bom uso, não me refiro à compartilhar frases da Clarice Lispector de maneira viral como se, alguma vez na vida, já a tivesse lido. O fato é que essas redes nos permitem dar asas à tudo aquilo que ninguém quer saber, mas que, para nós, precisam ser ditas. Mas, como álcool ou cartões de crédito, devem ser usadas com sabedoria, astúcia e moderação. Senão, o efeito pode ser catastrófico. E não queremos mais pseudos, não é?

domingo, 20 de julho de 2014

Espelhos

E estamos em frente a um espelho, eu e tu. Nos vemos, mas não nos enxergamos. Quem são aqueles que nos encaram com tanta dúvida quanto nós mesmos? A quem pertencem aqueles dois pares de olhos, vidrados a nos observar, enquanto pensam em quem somos nós?
Não sei. Há tempos não sei quem somos, não identifico quem um dia fomos. Dizem que essas coisas acontecem, que vivemos tempo suficiente para não nos reconhecermos, mudando um dia após o outro, nos tornando completamente distintos passados apenas alguns meses. Eu acho que é verdade. Acho que mudamos, e mudamos muito, ao ponto de não sermos os mesmos que nos olham do espelho.
Pelo menos é o espelho, não uma fotografia. Se fosse uma imagem de dois, talvez três anos, poderia julgar nunca ter nem ao menos nos visto antes. Não somos os mesmos, não somos iguais.
É, nós definitivamente mudamos. E nem sempre é para melhor. Só nos resta então o espelho, e todas as perguntas que ele nos traz.