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quarta-feira, 21 de maio de 2014

Sonhei

Impossível falar de sorrisos e não lembrar de ti, o dono do sorriso mais lindo que já vi. Essa noite, sonhei com o teu sorriso. Sonhei que tu vinha, com teu jeito manso e tua conversa profunda, de quem já me conhece há décadas, e o sol batia no castanho quase loiro dos teus cabelos. Teus olhos sorriam também, mas acho que jamais te vi sorrir sem que os olhos acompanhassem a harmonia daquela visão. Sonhei que tu pegava na minha mão e o resto do mundo ao nosso redor se esvaia, perdia o foco, e éramos eu, tu e todas as possibilidades do mundo.
Sonhei que tu me falava sobre a vida, enquanto teu braço passava por sobre meus ombros. Tu dizia que eu era tua, que fazia parte de quem és, e que nada no mundo mudaria o fato de que o que sentíamos duraria por, pelo menos, uma vida. Por alguns instantes, até acreditei que tudo aquilo fosse verdade, juro que sim. Acreditei que tua voz doce cantava para mim tudo aquilo que eu sempre quis ouvir, e naqueles instantes, fui a pessoa mais feliz do mundo. Ou, pelo menos, do meu mundo.
Não há nada de errado em deixar-se levar pelos sonhos. Eles nos permitem alegrias que, fora dos mesmos, não seriam sentidas. São a mais bela e pura forma de felicidade, e por muitas vezes, nós os esquecemos.
Quem sabe sonhar contigo seja o mais perto de ti que eu jamais chegarei. Pois é, a vida tem dessas coisas.

A Chuva

Um café quente, um sorriso frouxo, o som dos pingos batendo nos vidros da sala de estar. Embaixo do cobertor, com um livro aberto ao meio, um sonho em construção. Formas, milhares delas, girando ao meu redor. E a chuva, ah, a chuva, essa não se deixa esquecer.
Nesse momento, tu faz muita falta. O café é menos quente; o sorriso, menos frouxo. Mas a chuva continua, intacta, exatamente como seria se tu estivesse aqui.
Sinto o cheiro do teu perfume na almofada do meu sofá, aquela na qual tu costumava deitar enquanto falava dos sonhos que tinha para nós dois. Esses sonhos, que agora estão mais distantes do que nunca, e que eu espero que não sonhes junto a mais ninguém. Eram nossos. Eram. Não são mais.
Mas a chuva, apesar de tudo, continua a cair. Independente do teu perfume, da tua ausência, da minha saudade, ela só segue o seu rumo em queda livre, sem nada para impedi-la de chegar ao fim de sua jornada. E, quanto toca o chão frio, deixa de ser chuva, e o seu ciclo se renova.
A pergunta é: E o amor, se renova? Quando acaba, simplesmente tem fim, ou se transforma em outra coisa? O amor, o nosso amor, é como a chuva ou como o livro? E, se for o livro, qual será a página final?

terça-feira, 20 de maio de 2014

Tu

E tu, que nem daqui és, chegou de cantinho, fazendo ninho no meu coração. Tu, que viestes de longe, e de tão bem que te escondes, nem ao menos vi chegar. Tu, com teu jeito risonho, com teu olhar tristonho, com teu jeito de amar. Tu chegas, e eu não sou mais eu; partes, e eu me parto em mil pedaços; voltas, e tudo volta contigo.
Lembro-me até hoje da primeira vez que te vi. Parecia que, de lugar nenhum, tu surgias, e já me conhecias como mais ninguém. E tu me cantavas, me encantavas, e eu me deixava levar, me deixava sonhar. E foi bom enquanto durou, apesar de durar muito pouco para ser algo, muito pouco para se formar.
Por que retornar agora, quando meu coração se curava das feridas que tu abristes? Por que, justo agora, que tu não passavas de uma lembrança? Eu te esquecia, e agora retornas. Sem pedido, sem aviso, causando reformas nos meus sentimentos. Tu chegas e eu sinto meu coração palpitar novamente, daquele jeitinho que só acontece contigo.
E tu, que vens de longe, abrindo uma brecha nas minhas muralhas, quebrando o gelo em torno de mim, tornando-te mais próximo do que qualquer um já chegou. Sem palavras, só entrastes, e eu me vi perdida novamente em ti.
Estou ficando louca. Pouco importa. Só abrirei a porta, te deixarei entrar. E se resolveres ficar, simplesmente aceitarei. E, é claro, serei feliz pelo tempo que durar.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

O Mal do Século

O mal do século é amar mais às coisas do que às pessoas e preocupar-se mais com a realização do que com o processo para atingi-la. Focamos no final e esquecemos do percurso, e esse é o nosso maior pecado, o crime que nos leva à guilhotina de nossa própria autopiedade. E por mais que não nos creiamos passíveis de autopiedade, ela está sempre conosco, esgueirando-se pelas sombras, esperando o momento em que notemos que tudo que fizemos foi um aglomerado de pontos de interrogação sem a menor pretensão de serem respondidos.
Somos vítimas de nós mesmos, de nossa ânsia por algo que não podemos dominar, algo que nos leva a crer que nada é útil ou importante, até que tudo de "útil e importante" tenha passado por nós, e os tenhamos deixado fugir sem ao menos tentar correr atrás. Nosso mal é acreditar que viveremos eternamente, ou pelo menos por tempo suficiente para consertarmos todos os nossos erros quando tivermos coragem para o mesmo. Isso nos dá uma cota de centenas, talvez milhares de erros sem correção mentiras sem perdão, perguntas sem respostas.
E intermináveis "e se". Uma lista gigantesca e imensuravelmente frustrante de "e se". E se? E se? E se?
É uma pena que um "se" não valha de nada nesse mundo de viciados na frieza, viciados na impessoalidade. Nesse planeta de incontáveis errantes que simplesmente se recuram a acertar. Dominados, todos nós, pelo novo mal do século. O mal de quem se recusa a amar.

Essência

Acordar sem um "bom dia", ir dormir sem um " boa noite"... Sabe, às vezes é difícil não ter alguém para dizer que ama. Não digo isso pela carência, mas sim porque há certas coisas na nossa vida que queremos compartilhar, e poucas pessoas te compreenderão tão bem quanto alguém que te conhece verdadeiramente e por inteiro.
Seria bom, em alguns momentos, saber que alguém pensa em ti quando ninguém mais está pensando, ou que, na vida de uma pessoa, você faz a mínima diferença. Seria bom ter a certeza de que, ao cair, teria alguém para levantar-te sem cobrar nada em troca, e saber que não precisaria ser cobrado pois, de qualquer maneira, não hesitaria nem por um instante em erguê-lo também quando o mesmo lhe acontecesse.
É tudo questão de ter alguém que jamais estará um passo à frente, nem um passo atrás, mas ao teu lado, valorizando cada pequeno detalhe teu como se até teus defeitos te tornassem a pessoa mais maravilhosa do mundo. Como se você não fosse a única existente, mas a única essencial. Como se, por alguns instantes, você fosse a essência do que quer dizer o amor.