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quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Bon Vivant

O destino, esse bon vivant, teima em me jogar de volta aos seus pés. Ah, como queria poder dizer que a vida não se resume mais a ti... Mas toda vez que te vejo, mesmo que se passem meses, a sensação é a mesma: eu flutuo, me envolvo, me entorno. Como uma pipa a tribular pelo céu, me sinto livre, antes mesmo de perceber que há algo que me segura presa ao chão. E cada partida, tão dura, tão cruel, tão constante... É um ciclo vicioso, uma elipse, e o centro de tudo isso é você. Sempre você.
O bom de nós dois é que, antes de começar, eu já sei o final. Me poupa as milhares de noites sem dormir, as expectativas, os fracassos. Sei que nada será como eu sempre sonhei, e, bem por isso, já não sonho mais. Se tu ao menos imaginasse quanta dor isso me poupa, entenderia o porquê de eu temer tanto a tua presença.
Não minto quando digo que, apesar de tudo, meu ser por completo deseja nunca mais te ver. Meu corpo treme toda a vez que tu chega, e meu impulso é sempre o de correr para longe de ti. É contraditório, mas qualquer contradição é melhor do que o sofrimento que vem depois. E a cada novo "não", a cada novo "nada", eu me arrependo de não ter fugido. E o amaldiçoo por, mais uma vez, se fazer presente em mim. Como você sempre faz.
Mas o destino, esse bon vivant, continua brincando com aquilo que sobra de mim. Faz parte do que resume a vida, e eu até já me acostumei. Até porque, quanto mais vezes eu te ver, mais textos restarão, mais de mim entregarei ao papel.
Nada é de todo ruim, afinal. Principalmente quando se trata do meu bon vivant.

Pueril

O que antes me definia, agora não passa de lembrança. É como se, ao findar de mais um dia, eu fosse diferente. Talvez seja porque, agora, estou sem ti. De novo. Meus sonhos pueris, tanto quanto minhas ilusões, me enganam e me iludem, e mais uma vez, o que sobra são os fragalhos.
Sempre tento consertar aquilo que nunca foi correto. Por algum motivo, e sabe lá Deus qual, pensei que fossemos "para ser", me convenci de que "a segunda vez é para valer". Ah, tão pueril... Pueril como as flores de outono, como as páginas inacabadas de textos que faço questão de guardar... Pueril como só eu mesma sei ser, e só quando se trata de ti.
Deixo as notas clássicas me embalarem, me perco nas memórias e tento me esquecer de que ainda não te esqueci. Não sei quando esquecerei. Mal sei se esquecerei. Mas enquanto a música me rodeia, pelo menos não penso, e não pensar é, por vezes, mais fácil do que tentar entender. Ah, mas que pueril sou eu. Que errante, serva dos próprios caminhos, dos próprios vícios, serva de ti. Ah, tão pueril... como só eu sei ser.