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terça-feira, 7 de agosto de 2012

A Dor de Amar-te Mais

Olho para seu rosto e percebo que estou te perdendo, perdendo o que nunca foi meu. Queria poder culpar o mundo, o destino, qualquer um, mas não posso, pois sei que a única culpada disso tudo sou eu. É triste saber que estou te deixando ir, quando podia fazer tanto para impedir. Estou te deixando ir, estou te deixando seguir sua vida, esquecer que eu existo, se apaixonar ou não... estou te deixando livre. Livre de mim.
Queria ser capaz de falar o que sinto, o que deixo de sentir, minhas vontades e meus gostos. Queria poder te conquistar ao pouco, deixar o destino agir por entre nós dois, e quem sabe algum dia poder chamar-te meu. E ao invés de tudo isso, ao invés de tentar, eu apenas me escondo por trás de palavras, por que é o que eu sempre faço, é a única coisa que sou capaz de fazer. Sinto-me sem chão e a primeira coisa que faço é agarrar-me às palavras, ao meu diário pessoal que é esse blog. E nele digo tudo o que eu mais queria ter coragem de te dizer. Digo, por que sei que jamais lerá.
Dizem que, por falta de coragem, perdemos as maiores chances de nossas vidas. Provavelmente seja, e muito provavelmente, eu esteja te perdendo por isso. Quem sabe, se eu tivesse coragem para te dizer pelo menos metade de tudo, de todo o inexplicável e enigmático mundo de mim mesma, corresse menos risco de perder-te eternamente. Mas de que adianta, agora? Temos poucos meses, poucos encontros, poucos sorrisos... e daqui a algum tempo, muito pouco tempo, você irá embora, sem esquecer de que eu existo, por que na verdade não lembra nem agora, por que não faz diferença para você. Já eu, vou respirar fundo, contar até dez, cem, mil se necessário, e sorrir para todos, fingir que estou feliz, quando tudo o que queria era me encolher por debaixo das cobertas e chorar, chorar todas as mágoas que eu mesma me causei.
Tão perto e, ao mesmo tempo, tão distante. Você consegue se fazer presente, e ao mesmo tempo, nunca senti alguém tão longe de mim. E tua presença, essa tua doce e serena presença, jamais me passa despercebida, por que apenas eu reparo em ti, assim como queria que você, pelo menos uma vez na vida, reparasse em mim. Tua presença está sempre aqui, a inebriar-me o ser, mas ao mesmo tempo, sempre machucando-me mais do que tua ausência jamais faria.
O problema de tudo isso é que, apesar de todos os "mas", eu já estou viciada em você, na dor que me causa, na tua presença inebriante e na tua dor dilacerante, viciada em cada minúcia tua. Sou masoquista, eu sei, pois gosto de sofrer, gosto da dor que me causa, gosto de tudo isso. E ao mesmo tempo odeio. Amo amar-te, ao mesmo tempo que desejaria jamais ter te conhecido. Queria não sentir o que sinto, e ao mesmo tempo, tenho medo de jogar tudo para o alto e, algum dia, ter de viver sem tu dentro do meu peito. Peito meu, que bate incessante e exclusivamente por ti, embalado pelas batidas de teu coração, doce, puro e ingênuo coração.
E enquanto me escondo por trás de mais essas palavras, você se vai. Para longe, muito longe. Quem sabe para algum lugar onde eu não possa mais te ver. Chorarei, como tenho certeza de que tu não farás, afinal, quem partes é tu, não eu. Sofrerei, como tenho certeza de que tu não farás, afinal, quem ama sou eu, não tu. Fingirei sorrisos, fingirei felicidade, serei aquela garota sempre sorridente. Enganarei a todos, por sabe-se lá quanto tempo. A todos, menos a ti, menos a mim. No fundo de tua alma, sempre saberá que sofro só por ti, que morro só por ti. E eu, é claro, sempre saberei de toda a dor que vem de ti, e a usarei para erguer os pilares que sustentarão minha monumental falsa felicidade. Afinal, além da rocha, essa dor é a coisa mais permanente que já existiu. Pelo menos enquanto durar.
E enquanto durar, meu peito estará latejando. Latejando por ti, e apenas por ti.

Espectadora de Mim

Às vezes eu encaro tudo de longe e digo para mim mesma que tudo será diferente no dia seguinte. Acho que é fácil dizer que vai mudar, que você comanda sua vida e que amanhã será melhor. O problema é que nem sempre é. Quase nunca é. Simplesmente por que, no dia seguinte, eu não farei nada para mudar, e tenho certeza de que você também não fara.
Olho-me no espelho todo o dia e penso "o que é que eu estou fazendo da minha vida, afinal?". Sim, por que sentar em um canto e ficar assistindo a sua vida correndo em frente aos seus olhos, como mero coadjuvante de uma história que deveria ser apenas sua, é perder tempo. E é exatamente o que estou fazendo. Deixando para lá, sendo guiada pelo futuro, deixando acontecer. Esperando que algo impossível aconteça, esperando que algum milagre me mande para o lugar onde eu deveria estar.
E se hoje eu prometer que amanhã será melhor, que farei valer a pena, a verdade é que eu não o farei. Por que tenho medo, ou por que não levo fé em mim mesma, o fato é que não mexerei um músculo para mudar minha vida, e mais uma vez, ao fim do dia, tudo estará exatamente igual ao que era antes.
Queria eu, ser guiada como em uma dança, cada passo levando a um próximo, sendo guiada por uma doce melodia, movimentando-me ao ritmo quase mágico de uma música, sorrindo e chorando conforme a letra de uma canção, sendo feliz sempre. Quando desse o  primeiro passo, o próximo seria apenas questão de movimento, de um impulso. Como queria que o próximo passo em minha vida fosse apenas questão de impulso... não é. A força que eu necessito, a determinação... me sinto tentando mover montanhas, atravessando extensas e negras florestas, passando meses perdida no deserto. Nada dá certo, e após a dificuldade do primeiro passo, há sempre uma dificuldade igual ou maior para o segundo.
O fato é que me sinto caindo, uma lenta e dolorosa queda rumo ao infinito de emoções. Emoções ruins, emoções desgastadas, apenas aquelas que não queremos para nossas vidas. E se, ao olhar pelo espelho, se sentires livre para voar, deverá sentir-se sortudo, pois livrou-se das correntes que me acorrentam ao solo da minha vida. Meus rasantes jamais tornam-se voos, meus impulsos jamais tornam-se saltos, meu caminhar jamais me leva a lugar nenhum. Fico exausta, sozinha e fria de coração. E enquanto isso, os outros vivem. Os outros voam, saltam, dirigem suas vidas para novos rumos, e eu continuo os assistindo passar pela minha vida, enquanto sou psicologicamente amarrada ao meu eu de hoje, e provavelmente, meu eu eterno.
Só queria saber dar o próximo passo sem medo de cair, só queria saber que, quando eu dissesse que "amanhã eu mudarei minha vida", pelo menos uma vez, isso realmente acontecesse. Só queria ser algo além de fraca, frágil, desistente... talvez até um pouco acomodada, exausta. Queria ter forças para seguir em frente, para fazer acontecer, para seguir cada conselho que eu sismo em dar para as outras pessoas, para fazer valer o que coloco em meus textos. Queria ser forte o suficiente para lutar, não importando o fato de a guerra já estar praticamente perdida, apenas pelo fato de poder dizer que lutei até o fim.
Enquanto nada disso acontece, e como isso provavelmente jamais acontecerá, continuo com minhas promessas vazias de que, amanhã, farei acontecer, de que amanhã lutarei pelo que quero. Acho que é mais fácil assim, viver de mentiras, de teatros ensaiados. Afinal, é só o que posso fazer, acorrentada ao meu chão.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

A Garota de Lugar Nenhum


Era uma garota de olhos azuis, do Sul da Carolina do Norte. Com seu lindo vestido verde e seu sorriso amarelo no rosto. Era ela, a doce e sensível garotinha de Manhattan, New Jersey, de Londres ou Tókio. Não importa de onde ela era, de onde vinha ou para onde ia. Nem mesmo a cor do vestido ou a roupa que vestia realmente importava. Tudo o que importava é que ela era uma garota como qualquer outra, e como qualquer outra, tinha um coração partido.
Aquele coração partido, cujas feridas latejantes a impediam de pensar, cuja dor não a deixava conter as lágrimas, cujas cicatrizes durariam eternamente... aquele coração partido a fazia ser quem era. E depois de um tempo, ela começou a viver apenas para ele, exclusivamente para aquele coração ferido e destruído, em ruínas por causa de tudo o que passara. E achava que era feliz, realmente achava... até ver que não era.
Como queria eu que aquela pequena garotinha não sentisse tamanha dor, mas era impossível. Ela já estava envolta demais em tudo aquilo, perdida em seu próprio mundo, trancada em seu casulo junto ao seu coração partido.
Durante meses ela chorou, sentindo-se fraca e acabada, vencida por obstáculos que ela nem ao menos fazia ideia de que existiam. Durante meses, tudo parecia encontrar-se em tons de cinza, e nada mais tinha aquela emoção que antes ocupava o lugar em seu coração onde agora estavam as feridas. Durante todo aquele tempo, tudo o que ela queria era alguém para curar seu coração ferido, fazê-lo sarar. Até que, em uma noite morna de primavera, o casulo rompeu-se, e a garota deu seu passo em direção ao mundo. O mundo que, agora, era todo seu. Seu, por que agora ela estava curada, havia curado a si própria sem dar-se conta, sozinha, apenas com a ajuda do tempo.
Mas o caminho até lá tinha sido longo, muito longo. Sofreu demais, sentiu demais, chorou todas as lágrimas que tinha... tudo aquilo para chegar àquele momento, para ter a chance de ver as cores do mundo novamente. E agora que estava lá, ela sabia que tudo tinha valido a pena, pois finalmente ela viveria novamente.
Por que corações partidos nunca mataram ninguém, e ela não seria a primeira.