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terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Hoje, por algum motivo,senti saudades de nossas conversas noturnas. Não faz tanto tempo assim... uma semana, talvez um pouco mais. É tempo demais, entretanto, quando se trata de querer unilateral. É sentir-se excluído ou esquecido, é começar a pensar no que fez de errado. Mesmo que nada tenha feito.
Senti falta de você me chamando próximo às duas da manhã, com seu jeito manhoso de ser, sem um motivo específico, com inúmeros subterfúgios para manter a conversa. Do conhecer e se identificar, de tudo isso e muito mais. E havia mais, como havia.
Falo no passado, pois passado é. Não importa se foi ontem, semana passada, há dois meses ou dez anos. Quando acabou, quando a página foi virada, é passado. E você virou a página.
Eu não.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Ela olhava para as fotos dele, para as linhas escritas em seu nome, para o passado, para tudo. Ah, ela era tão inocente durante aquela primavera... Já fazia mais de um ano, e quanta coisa havia mudado para os dois...
Ela recapitulou cada texto que havia escrito para ele. Cada linha. Cada sorriso. Recapitulou tudo, e percebeu que nunca foi mais do que ela. Ele nunca amou, nunca escreveu, nunca sorriu pelos dois. Só ela. Isso doeu no fundo do seu coração que, em seu todo, não havia deixado de ser algo que não inocente.
Ele poderia ter amado aquela garota tanto quanto ela o amou. Poderia ter dito algumas das coisas que ela tanto queria ouvir. Poderia ter voltado seus olhos para ela e visto, naquela garota de sorriso triste, um futuro que valesse a pena perseguir. Mas nada disso aconteceu. Só ela amou, e isso é fato.
Agora, ela chorava. Chorava ao lembrar de todas as vezes que havia chorado por ele, sem que ele derramasse uma lágrima sequer. Chorava pelas inúmeras ocasiões em que encostou a cabeça na janela do ônibus lotado e, com o coração partido, observou a paisagem correr do lado de fora. Chorava, porque amar sozinha é uma das tarefas mais duras que uma garota, da sua idade, poderia passar.
Amar sozinha era uma tortura, e agora ela sabia. Não assistia mais comédias românticas, nem lia sobre amor; tampouco ouvia músicas que a lembrassem corações partidos. Não queria iludir-se ainda mais, não queria voltar a amar sozinha.
Ela nunca deixou de amar, e essa era a verdade. Mas aquela garota, de sorriso triste, jurou jamais admitir isso.
Quem sabe, com o tempo, fosse embora.
Se não foi dito, foi mentira.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O Amor e Outros Vícios


Superar um amor é, por muitas vezes, como livrar-se de um vício; envolve pequenos sacrifícios, mudanças de hábito, dor e longas crises de abstinência. Ainda assim, livrar-se de um querer-ruim é, na maioria arrasadora das vezes, o certo a ser feito; de nada adianta manter algo morto em si, para correr o risco de morrer em vida.
Superar um amor perdido, como um vício, requer que se evite o primeiro gole: nada de entrar no Facebook só para ver se a pessoa está online, nada de olhar pela janela no horário que a pessoa costuma passar em frente à sua casa. Requer essa força de vontade para evitar as pequenas doses de memórias. Você precisa passar pelo fim do roubar-cigarros, pelo cessar de cheirar-o-vinho-alheio. Precisa evitar de ir propositalmente a lugares em que sabe que irá encontrá-la, ou acampar em frente ao emprego da pessoa só para vê-la sair no horário de almoço.
O próximo passo é mais dolorido: evitar as influências alheias. Brigar com aquele seu amigo que, automaticamente, te passa o copo da bebida ou te oferece um cigarro. Parte de se "desviciar" envolve tirar o vício dos seus amigos de pensarem em você como um viciado. Você tem que mostrar a eles que não quer que te mandem fotos novas da pessoa, deem notícias, avisem que a viram na rua. Tem que se convencer de que não quer mais saber do amor passado, para poder convencer seus amigos de que isso é verdade. Aos poucos, eles perceberão que, para você, é melhor que nada seja dito ou perguntado. Sem citações, menções ou afins. Esqueçam, você e aqueles que te rodeiam, que a pessoa existe. Ou, pelo menos, finjam esquecer.
Afaste-se, também, dos demais viciados: pessoas que se queixam em demasia de desilusões amorosas ou que falam demais no maldito cigarro acabam te arrastando novamente às memórias; nesse momento, considere essas memórias como inimigos, se elas não forem negativas ao ponto de se tornarem aliadas. Então, fuja daqueles que te lembram que você ainda ama; queira ao seu lado pessoas bem resolvidas e dispostas a te pôr para cima. É nesse ponto, também, que deve fugir das comédias românticas, das músicas melosas e de textos como esse, que tratam de amor.
Nesse ponto, você já está semi-arrasado. Seu coração ainda está partido, e boa parte da convivência que ainda restava foi cortada. Sinto muito em informar, mas fica pior: você precisa, de uma vez por todas, evitar as altas tentações. Aquela garrafa de Johnnie Walker na prateleira da sala do seu chefe é tentadora, eu sei. Tão tentadora quanto falar com a pessoa pelas redes sociais, invadir seu Facebook para ver as novidades, perguntar aos amigos da pessoa se ela ainda fala de vocês dois. Você jamais esquecerá um amor enquanto se mantiver preso aos macro-detalhes da vida do amado. É difícil, é doloroso; mas, garanto, nada disso é pior do que descobrir, por sua própria curiosidade, que seu amado ama outro alguém. Se isso acontecer, seu coração doerá, e tudo que você mais desejará no mundo é jamais ter procurado. Você correrá de encontro à sua própria destruição, e esse é o momento em que o vício se torna realmente perigoso: larga sua vida, seus amigos, sua família, seu emprego, tudo isso porque descobriu que, ao contrário de você, aquela pessoa a quem ama já superou as águas-passadas. Olhe para uma foto dela no Instagram e seja forte o suficiente para não curtir, mesmo que isso lhe custe noites insones. Pare de colocá-la em cada linha que escreve, em cada música que ouve, em cada pássaro que vê. Pare de vê-la como parte integrante da sua vida: ela não é mais, nem precisa ser. Você tem milhares de partes importantes de vida para se preocupar, e se deterá na única pessoa que não quer estar contigo? Não acha isso um tanto masoquista?
E se nada disso resolver? De duas, uma:
a) Você é incorrigível. O vício te pegou de tal maneira que só a reclusão te ajudará. Tente internar a si mesmo: sair para uma viagem, mudar de ares, fugir da pessoa pelo tempo que for necessário. Superar esse amor será uma tarefa contínua: talvez, depois de anos, ainda terá que controlar seu coração, que sismará em bater mais forte toda vez que vir a pessoa que um dia amou. Será um longo caminho, e nem sempre será fácil continuar em frente. A pergunta é: quer deixar esse amor dominar sua vida, ou quer ser forte o suficiente para ter outros amores que o consumam tanto quanto, mas pelos quais valha a pena lutar?
b) Você não tentou de verdade. Enquanto os outros não viam, você tomou pequenas doses de álcool, fumou meio cigarro, encarou aquela foto por dois segundos a mais, postou uma música que a pessoa gostava de ouvir com você só para tentar relembrar ela dos bons momentos juntos. Viu a pessoa na rua e se permitiu, por alguns instantes, divagar sobre o que poderia acontecer se você desse oi. Permitiu-se secretamente bebericar aquele Johnnie Walker no bico da garrafa; encarou o número dela, pensando em telefonar. Se for assim, terá que começar do início, se não quiser que esse vício te consuma. Permita-se tentar de verdade, ou assuma que é fraco demais para ser feliz.

domingo, 7 de dezembro de 2014

É burrice entrar em negócios que serão certamente falhos. Burrice comprar uma briga perdida, começar algo que vá terminar mal de qualquer maneira. E isso me assusta, porque é exatamente o que estou fazendo; te amando, sabendo que. no final, sairei ferida.
Há duas possibilidades para esse enredo: na primeira, dá certo por um tempo. Se for assim, eu serei feliz até você cansar de mim e, então, sofrerei. Na segunda, não dá certo desde já, e eu antecipo o sofrimento sem memórias boas para guardar.E enquanto engulo o choro, com a visão embaçada, não sei qual das duas escolheria, se tivesse a chance. Elas me parecem terríveis, e eu não quero sofrer.
Mas, ainda assim, sinto que começo a te amar. Talvez, com cada célula do meu ser. Estou apavorada, perdida, sozinha; mas te amo mesmo assim, com todos os amores que já fui capaz de descobrir.
É burrice, eu sei: alguém sairá ferido, e esse alguém sou eu. Sou sempre eu. Serei eu daqui a vinte, trinta anos. Serei eu, até não ser mais.
Estou com medo.
Medo de você.
Você, com seu olhar doce,
doce ou amargo;
amargo querer.

Estou com medo.
Medo de te amar,
amar dolorosamente,
dolorosamente me entregar,
entregar também tudo que sinto.

Estou com medo.
Medo de ser ferida,
ferida como sempre fui.
Fui, e sempre serei,
serei até o fim da vida.
Você sabe que as coisas vão mal quando cinco minutos não são suficientes; quando quer horas, dias, uma vida, e ainda assim, acha pouco. Sabe que seu coração foi roubado quando sente o peito apertado porque os olhos do outro não brilham ao te ver. Sabe que foi rendida quando qualquer detalhe te causa preocupação. Sabe que ama quando percebe, pela maneira de escrever, que a pessoa não está bem.
Às vezes me pergunto o porquê de ser você. Por que, entre todos, justo aquele a quem não posso ter? Aquele cujo sorriso eu não causo? Aquele que sabe da minha fraqueza e se aproveita dela, sem piedade? E pisa no meu coração, não sei se conscientemente ou não. Dilacera, dilata, delata. Humilha, se passando por humilde. Pisa, aperta, mói.
Você sabe que ama quando pensa em se entregar, mesmo sem querer. Quando cada simples imagem te lembra do amor. Quando as lágrimas não se prendem aos olhos.
Sabe que ama quando se sente como eu. Sabe que ama, simplesmente por saber.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Poderia transformar nossas conversas em meus vícios. Poderia gravá-las, cada uma delas, para não mais esquecer; gravá-las no coração, com letras entalhadas por grandes escritores, com palavras rebuscadas e cercadas de sentimento.
O problema dos vícios é que eles devem ser alimentados, e já não sei por quanto tempo seria capaz de alimentar esse vício meu. Talvez por mais alguns anos, mas acho improvável. Mais certamente, por alguns poucos dias. E, depois, o que faço com essa alma viciada em ti, que tende a me habitar, inquieta desde sempre? Sabe, ela é uma hóspede barulhenta, mesmo contente. Como seria ela, se eu a viciasse e, de repente, a colocasse em abstinência? Seria capaz de viver sem que eu a suprisse? Será que essa alma encontraria outro vício?
Quem sabe, se viciasse em todas as vezes em que imagino teu sorriso ou, então, no teu olhar turbulento, cercado de inúmeros significados ocultos, esse olhar que guarda os mistérios do universo em seu brilho.
Não sei, nem me preocupo com isso, nesse exato momento. Agora, só me preocupo em não me viciar. Quero me manter limpa pelo tempo que for possível.
Certamente, tentar evitar o inevitável.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Já li cada linha umas tantas vezes, já absorvi cada palavra, e elas são quase parte de mim. De tantas vezes que elas repetiram-se em minha mente, já são velhas amigas; amigas traiçoeiras, desonestas, injustas.
Eu continuo tentando compreendê-las, e não sei se conseguirei algum dia. Só sei que tentei, tento e tentarei. Não sei por quanto tempo, nem em quantos vais-e-vens.
E minhas velhas amigas vem e vão, descompassadas e desordenadas, todas em minha mente, um tanto solitárias, buscando fuga de mim; e, se eu fosse elas, também fugiria. Está uma bagunça aqui dentro, impossivel habitar.