Enxergo quando alguém olha para outra pessoa com aquela expressão de carinho, pensando se algum dia teria uma chance, e tendo certeza de que jamais tentará, pois prefere viver sem saber a ter suas esperanças destruídas. Vejo olhares amargos partindo de pessoas que, geralmente, exibem sorrisos doces em seus rostos. Vejo a timidez no olhar de quem parece ser mais desinibido, o medo do olhar do mais corajoso.
Vejo tudo o que normalmente não poderia ser visto, e não gosto disso. Simplesmente pois, por ver o que vejo, ignoro outros sinais, me iludo, me engano. Isso tudo pois enxergo demais.
E mesmo vendo tudo isso, sentindo tudo isso, continuo sem conseguir entender a mim mesma, pois, cada dia mais, penso que sou uma metamorfose constante de inconstâncias, sou apenas o reflexo de algo abstrato, a vida exposta em uma tela branca.
Mesmo assim, mesmo sem conseguir ver as coisas mais óbvias, consigo reparar nos detalhes mais simples, mais banais, mais ignorados. Consigo ver o arrepio na pele das pessoas quando ouvem a voz de quem amam, consigo ver a mentira estampada em suas feições quando todos juram que ele esteja falando a verdade, consigo ver o carinho em cada gesto de alguém, mesmo que ele tente passar-se por frio e indiferente.
Que tipo de pessoa sou eu, que mesmo vendo tanto sem querer, consigo ser iludida sem ao menos esperar?
Quem sabe eu mesma me iluda, nesse mar de inconstância em que estou imersa. Algum dia, juro, ainda me afogarei na inconstância que me cerca.
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