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domingo, 20 de maio de 2012
Pelo Menos Assim
- Eu te amo.
- Não diga isso. - disse ela, aos prantos. - Não diga que me ama. Sabe o quanto é difícil fingir para mim mesma que essas suas palavras não me afetam? - não esperou ele responder, as lágrimas rolando copiosamente por seus olhos. - Eu não quero me iludir, não quero que você me deixe feliz por alguns minutos apenas e, depois, sem mais nem menos, meu mundo desabe junto com essa mentira. Seria demais para mim.
O rapaz segurou as duas mãos da garota, aproximando-se lentamente. Na diferença de altura dos dois, a garota encarava de volta os enigmáticos e brilhantes olhos azuis que a encaravam de cima. Suas respirações já estavam quase unindo-se. Um frio assolou o coração dela, ao saber que aquilo tudo era apenas uma ilusão.
- Escuta, eu te amo. Juro que sim. Te amaria mesmo que acabasse o mundo, mesmo que morássemos a quilômetros de distância, mesmo que o céu desabasse... Mesmo que tudo o que eu vivesse até hoje fosse uma enorme mentira, esse meu sentimento jamais o seria. Ele é a coisa mais verdadeira que eu já senti em toda a minha vida.
- Só... Pare. - ela respondeu, e então saiu correndo e chorando desesperada. Por um momento, pensou que ele a deixaria partir, que dessa vez fosse ser diferente. Então ouviu passos apressados atrás dela. Apressou o passo ainda mais, mas foi inútil. Um braço já havia a agarrado pela cintura e virado-a. E lá estava ela, novamente, encarando aqueles olhos azuis que tanto a fascinavam. Ele não fazia ideia de como ela o amava. Amava, na verdade, mais do que tudo.
- Você pode me escutar? - ele suplicou. Havia sofrimento naquela voz.
Ela baixou a cabeça, em silêncio, as lágrimas caindo em uma poça de água no chão. E cada vez mais o frio banhava sua pele, aquele frio vindo do coração, que contrastava com o forte sol de verão.
Ele pegou o queixo da garota que tanto amava e, lenta e delicadamente, com o dedo, levantou seu rosto, fazendo-a olhar em seus olhos. Os olhos castanhos dela, brilhantes e vermelhos graças ao choro, nunca pareceram tão belos.
- Eu te amo, está me ouvindo? Isso jamais vai mudar, minha pequena. Eu te amo, você é minha e eu sou seu. E não importa o quanto você corra de mim, o quanto me mande parar, eu jamais pararei. Sabe por que? Por que meu amor por você é maior do que tudo, e quanto mais correr, mais eu correrei, pois jamais seria capaz de ficar parado te vendo partir.
- E quando eu acordar? Como será quando eu acordar?
- Eu ainda estarei lá, dentro de você. - ele passou seu dedo por uma lágrima, enxugando-a. O contato com sua pele o fez arrepiar, e fez o mesmo para com ela. - Agora vai, minha pequena. Vai e não te esquece que meu amor por você é eterno.
Os lábios dele colocaram-se docemente na testa da garota. Ela sentiu o impulso de agarrá-lo e jamais deixá-lo ir, mas sabia que seria inútil.
Ele se afastou, lentamente, e já distante, ao virar para trás e olhar para a garota que tanto amava pela última vez, viu também a expressão sofrida que tanto o torturava todos os dias, que o feria como uma faca.
Ela viu uma lágrima correr pelo rosto dele e, então, tudo ficou escuro.
A garota sentou-se abruptamente, sentindo uma forte dor no coração. Jogou-se em seu travesseiro novamente, sentindo-o úmido graças às suas lágrimas. Enxugou o rosto e respirou fundo. Levantou-se e pôs-se a arrumar-se, investindo muito tempo na maquiagem. Sabia que o garoto dos seus sonhos não iria querer que ela encarasse a luz do sol com a cara de choro que via no espelho todas as manhãs.
E durante o dia, quando visse o rosto do rapaz que tanto amava, quando fosse obrigada a encarar de longe aqueles olhos azuis, lembraria-se de seus sonho, e lembraria-se de que, mais uma vez, ele declarou seu amor eterno.
E, principalmente, tentaria encontrar nessa lembrança forças para não chorar. Por que, pelo menos em sonho, ela sabia que ele a amava tanto quanto ela amava a ele e que, assim que repousasse a cabeça sobre seu travesseiro manchado de rímel, o veria novamente, e novamente, por poucas horas, teria certeza de que, ao menos nos seus sonhos, ele a amava.
Ao menos nos seus sonhos, ela seria feliz.
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