Ele sabia que, provavelmente, em alguns anos, olharia para trás e pensaria no que teria acontecido se ele ao menos tivesse tentado. Era impossível prever um futuro sem ela, mas mais impossível era, para ele, encontrar palavras para falar a ela de seus sentimentos.
Então, ele simplesmente a encarava de longe, sonhando com o dia em que o medo se dissipasse, juntamente com a solidão.
Ela o encarava, mais uma vez, os olhos se marejando, como de costume. Mais uma vez, ele estava lá, tão perto, e ao mesmo tempo, tão distante. Ela engoliu em seco pela terceira vez em meio minuto, pensando em o quão bom seria se ele tomasse uma iniciativa.
Queria agir, claro que queria. Ela queria abraçá-lo e dizer o quanto o amava, o quanto precisava dele... mas e o que ele pensaria? Ele iria considerá-la atirada? Ele correspondia?
Encolheu-se com o tremor que a invadiu. Mais uma vez, fechou-se em sua bolinha de sentimentos e pôs, por fora, uma máscara de felicidade, que refletia exatamente o oposto do que sentia por dentro. Mesmo assim, ela sabia fingir.
Em certos momentos, os olhos dos dois encontraram-se, e nenhum dos dois tinha força para desviar o olhar. Parecia mágica. E então, tudo se desfazia. Simplesmente era como se jamais tivesse existido.
Assim, os dois passaram dias e mais dias, um amando o outro, de maneira secreta. Na verdade, todos sabiam que eles haviam sido feitos um para o outro... menos os dois. E nada aconteceu. Nada nunca aconteceu.
O que eles tinham a perder, afinal? Se tivessem arriscado e a resposta fosse não, não mudaria em nada a realidade em que viviam agora, sem ter tentado. E se a resposta fosse sim, talvez hoje eles fossem felizes.
Mas um foi mais covarde do que o outro, e então o tempo passou.
Agora estão os dois casados, são pais, tem um bom emprego... e toda a vez que, por ironia do destino, eles encontram-se em um lugar qualquer, o pensamento que surge é "e eu o amei como jamais amei ninguém".
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